O cineasta brasileiro Julio Bressane leva para o Festival de
cinema de Veneza o mito Cleópatra com um filme "cult"
e elegante, exibido no sábado (1º) na sessão intitulada
"Veneza Mestres".
Bressane, de 61 anos, um dos pioneiros do cinema
experimental latino-americano, confessou sua emoção com a
primeira projeção pública do filme "Cleópatra" no
Palácio veneziano, onde foi bastante aplaudido.
Com a lenda de Cleópatra, um dos mitos mais
extravagantes da antigüidade, Bressane lança-se em
uma espécie de viagem interior, em um espaço histórico pessoal,
marcado pela estilização da cultura egípcia, ambientado com
cores alaranjadas e acobreadas, com figuras geométricas e cenas
rodadas nos sugestivos penhascos do Forte de Copacabana, no Rio
de Janeiro.
"Que posso dizer? Meu filme é como entrar no
subconsciente", disse o diretor, que reviveu em 2001 outro
personagem histórico, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche,
narrando no filme "Dias de Nietzsche em Turim" o
processo mental que o levou à loucura.
Bressane, convidado pessoalmente pelo diretor da Mostra
veneziana, Marco Muller, consegue contar à sua maneira a
complexidade da figura de Cleópatra (interpretada pela atriz
Alessandra Negrini), última rainha do Egito.
De origem grega, amante de Julio César (Miguel Falabella) e Marco
Antônio (Bruno Garcia), hábil política e mulher sábia, chegou a
ser identificada com os deuses: Afrodite e Ísis.
Bressane, que trabalhou durante 15 anos no tema e
fez diversas pesquisas sobre a vida de Cleópatra, consultando os
textos de Plutarco, obteve uma iconografia especial, exótica,
graças a moedas e esculturas da época.
O cineasta, que introduz sóbrias cenas de sexo e
inclusive faz uso em algumas partes de música contemporânea,
danças e mímicas, afirma que seu filme tenta transmitir a visão
com a qual a cultura portuguesa abordou o mito de Cleópatra.
"Este pequeno filme, que aborda o grande tema
da tirania, narra a lenda de Cleópatra segundo um imaginário
lingüístico, uma linguagem que conta com a força do
lirismo", escreveu Bressane.
Para o cineasta, Cleópatra, que levou uma vida
mais que tempestuosa e decidiu se suicidar no ano 30 a.C., após
ter conseguido subjugar o Império Romano, foi uma mulher
"entusiasta, trágica, musical, apaixonada pela razão,
intelectual, símbolo da junção de culturas, mistura de loucura e
sobriedade, resumindo, um sonho...".